De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. (Atos 2:2-4)
O texto de Atos 2, relatando sobre a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, é o ápice de uma história de cerca de 2.200 anos e aproximadamente 42 gerações, na qual Deus busca realizar sua vontade para o seu povo, e que está diretamente ligada à Sua Presença no nosso meio.
Uma das primeiras vezes em que Deus se manifesta de forma concreta e tangível ao povo israelita está em Êxodo 19. Deus acabara de resgatar seu povo do Egito. Ele então chama Moisés, e diz a ele para dar a seguinte palavra ao povo: ”Se vocês guardarem a minha aliança, vocês serão um reino de sacerdotes.” Êxodo 19.5, 6. Ou seja, Deus está dizendo para o seu povo que, se eles fossem fiéis a Deus e guardassem os Seus mandamentos, eles se tornariam uma nação de sacerdotes. Sacerdotes – kohen no hebraico – em latim significa “representante do sagrado”, ou seja, aquele que interage diretamente com Deus, aquele que tem um relacionamento direto com Deus.
Na sequência deste texto, Deus dá ordem ao povo para se preparar porque Ele irá descer no cume do monte. Moisés prepara o povo e no terceiro dia Deus desce através de fogo, fumaça, trovões e som de trombeta. O povo ficou com muito medo e, em Êxodo 20.19, o povo chama Moisés e diz o seguinte: “Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos.” O povo aparentemente se sentiu intimidado com todo aquele poder, então preferiu colocar Moisés entre ele e Deus. Moisés ainda tentou convencê-los, mas eles ficaram de longe, olhando toda aquela situação, enquanto Moisés falava com Deus (Êxodo 20.21). Moisés seria, a partir dali, o intermediador entre Deus e o povo, o que parecia bastante conveniente, mas não era o ideal. Deus desejava uma nação de sacerdotes, não uma nação com sacerdotes.
Já que o povo não queria vir até Deus, então Eles se propôs a ir até eles. Dá ordens a Moisés para que ele construa um tabernáculo, que é finalizado em Êxodo 40. Então, no verso 34, Deus finalmente habita o tabernáculo. A presença de Deus tem agora um lugar físico no meio do seu povo, um lugar concreto, mas acessível somente aos sacerdotes escolhidos por Deus.
Em Levítico 9 vemos a consagração de Arão e seus filhos, os Levitas. Agora, um número maior de pessoas podia desfrutar da presença de Deus, mas isso ainda não era o que Ele desejava, e o próprio Moisés se lamenta disso (Num 11.29), com Josué. Deus queria estar pessoalmente presente com todas as pessoas, mas agora as pessoas tinham que se contentar com a presença de Deus apenas para alguns líderes selecionados. Em vez de ser um reino de sacerdotes, aqueles que podiam experimentar a presença de Deus eram apenas uma tribo de sacerdotes, novamente mediando o povo.
A narrativa bíblica nos mostra que a presença de Deus permanece habitando naquela estrutura (uma tenda) até que Davi se incomoda com aquela situação e diz “Eu moro num palácio, enquanto o meu Deus habita numa tenda”. Davi então propõe a construção de um Templo suntuoso, bonito e imponente. Deus então aceita dar uma melhorada na sua casa, mas diz a Davi: “Olha eu topo isso aí, mas por causa do seu pecado, você não vai construir este templo. Mas eu deixo você preparar as coisas para a construção” (1º Co 17). O templo então é construído por Salomão, seu filho. Em 2º Coríntios 7.1, após toda a celebração em função do término da construção do templo, Deus desce por sobre o templo, e a sua glória enche aquele lugar. A Bíblia nos conta a respeito da beleza e suntuosidade daquele lugar. Que lugar maravilhoso para habitar a presença de Deus! Mas, mais uma vez, vemos que a presença de Deus estava confinada a este local físico: o templo em Jerusalém. Esta era uma morada espetacular, mas ainda faltava algo: um reino inteiro de sacerdotes.
Em todas estas passagens, sempre que Deus se manifesta no meio do seu povo, todos conseguem percebê-la. Há sempre fogo e trovões; é algo magnífico, lindo, glorioso, inequívoco!
Neste ponto da história, começamos a achar que a presença de Deus permanecerá para sempre dentro do templo construído por Salomão. Mas à medida que a história de Israel progride, o templo é profanado pela idolatria e injustiça de Israel, e Deus finalmente deseja que ele seja destruído. E não somente o templo é destruído, como também as cidades de Israel são destruídas e tomadas, e o povo é espalhado e exilado em outros países. Mesmo quando os exilados retornam e o templo é finalmente reconstruído, o propósito do templo nunca foi cumprido, que era o de reunir Deus e seu povo, para que pudessem ser um reino de sacerdotes.
Quando observamos os livros dos profetas no Antigo Testamento, eles falam da esperança de um templo restaurado, uma habitação restaurada para a presença de Deus. Ezequiel é um destes profetas (a partir do capítulo 40). O profeta Joel também fala do futuro, afirmando que o Espírito do Senhor se derramará sobre toda a carne (Joel
2.28). Isso se conecta com o capítulo 3, onde o Senhor diz que habitará com seu povo. Haverá uma presença física do Senhor entre aqueles que são seus. Assim, Deus habitando com Seu povo está conectado com o Espírito sendo derramado.
Assim, podemos finalizar a leitura do Antigo Testamento pensando:
Quando o povo de Deus vai experimentar o novo templo; quando o Espírito e a glória de Deus virão morar entre nós, para que possamos experimentar sua presença e poder divino, que antes só eram acessíveis a Moisés e aos sacerdotes?
Esta passagem em Joel é a pedra angular de todas as passagens, até agora. Deus habitando entre seu povo, por meio de seu Espírito é aparentemente a maneira pela qual finalmente teria seu reino de sacerdotes!
Isso nos leva ao Novo Testamento, onde Jesus, o verbo de Deus, habita no meio de seu povo (Jo 1.14). Aliás, o verbo habitar, utilizado por João, no seu original, significa acampar, numa referência direta ao tabernáculo de Moisés. Ou seja, Jesus estabeleceu um tabernáculo entre nós! Jesus é o templo. A divina e gloriosa presença de Deus estava ali, em sua pessoa física. O Deus Emanuel, o Deus conosco. Mas Jesus não permaneceu nesse modo para sempre; em João 16.7, Ele disse que era melhor que Ele fosse – em referência à sua morte, ressurreição e ascensão –, para que o “Conselheiro” viesse, o "Espírito Santo”. Quando Jesus assumiu a semelhança da humanidade (Filipenses 2.7 e Hebreus 2.7-9), limitou-se estar em um local físico de cada vez, assim como o Tabernáculo e o Templo só podiam estar em um lugar de cada vez. Em João 16, Jesus está dizendo que, quando o Espírito Santo vier, a presença de Deus estará disponível para todas as pessoas. Então em Atos 1.6-9, Jesus é elevado aos céus, mas não antes de prometer que o Espírito Santo viria sobre os discípulos, dando-lhes poder. Com todo esse pano de fundo em mente, os discípulos estavam ansiosos e prontos para que algo novo acontecesse.
E finalmente retornamos ao texto 2 de Atos, quando no dia da festa de Pentecostes, o Espírito Santo é finalmente derramado sobre os discípulos. O Espírito de Deus veio sobre cada um dos apóstolos em uma magnífica exibição, com vento e fogo, assim como aconteceu em Êxodo 19, Levítico 9, 2º Crônicas 7 e Ezequiel 43. Agora a presença de Deus é para todo o povo de Deus, não apenas para alguns poucos selecionados. Nesta sala estavam os doze discípulos, que representavam as doze tribos de Israel – não somente a tribo de Levi – e a presença de Deus descansou sobre cada um deles!
Quando Pedro fala com aqueles que testemunharam o evento, ele explica tudo citando – adivinhem o quê? – a passagem de Joel, que lemos anteriormente. O povo judeu que estava presente em Atos 2 tinha vindo de “toda nação debaixo do céu”. Este foi o início do cumprimento de tudo o que Deus queria para o seu povo. O que antes só Moisés podia experimentar, e depois só os sacerdotes, agora está disponível para todas as pessoas! Para todos nós. O Senhor finalmente habita com Seu povo e fez dele um reino de sacerdotes (1º Pedro 2.9):